terça-feira, 4 de outubro de 2016

Numa qualquer planície de África quando o sol laranja e púrpura já se deitava no horizonte dormente e seco deixando a crueldade  nocturna das matas surgir , um choro suado de uma negra fazia-se ouvir entre os tão diversos sons da fauna local misturados com um ar agora fresco que transportava o cheiro encarnado da terra às escuras que se fazia denunciar apenas pelo cândido resquício de luz . E em algures , como que perdida naquela planície , uma fogueira resistia à ligeira brisa que se levantava e lançava-se numa dança de faúlhas  errantes no suave caos da aragem . De uma palhota feita de barro ramagens e troncos achados naquela árida planura vinham os sons de mulheres,  reunidas num concílio ancestral de auxílio a uma parturiente,  que se ouviam  mais concretamente em rezas, danças acompanhadas do ruído  natural  da desordem de quem em grupo familiar aguarda a chegada de uma vida de sabe-se  lá onde.... do outro lado do cá talvez .   Lá fora sob a abóbada nocturna salpicada de pontos cintilantes os homens permaneciam serenos numa roda , onde por entre a solenidade da ocasião surgiam conversas desconcertantemente banais. Talvez seja um truque da natureza humana fazer troça directa ou indirecta das angústias, como que se aquelas trocas de frases  redundantes e de ocasião desafiassem sem temor as próximas horas  ou  servissem de pausa ao desassossego de quem teme  a morte naquela exibição parida do ciclo da vida
 O lume fazia as sombras dos homens manifestarem-se nos contornos da palhota do parto parecendo que elas mesmo eram  um fogo mudo e apagado numa mística aparição,  unindo a vida estéril das sombras dos homens à iminência de um nascimento enquanto alguns cães passavam ignorantes ao espírito expectante da tribo e faziam de acordo com o que o quotidiano reclamava , prosseguindo por entre os jovens e crianças ainda afastadas da responsabilidade de admitir as obrigações dos mais velhos. E brincavam os mais novos tão vivos como a magnífica noite que celebravam em tal teatro ruidoso da madeira ardente , de  risos e latidos , submetidos porém à grave aflição de uma mulher , que quase morrendo queria fazer nascer.

Primeiras letras.


Antes de mais agradeço-lhe desde já a visita que indirectamente me faz  neste meu espaço que pretendo que venha a ser de todos. A intenção foi já revelada. Ambiciono trazer dezenas; centenas, milhares ou...dois ou três leitores de toda a proveniência para lhes dar um conto,  como que se fossem eles próprios uma folha numa árvore.  Esta página servirá como laboratório nu  de crescimento  uma planta literária cuja espécie desconheço ainda . Por tal faço-lhe o convite a que a observe crescer, regue-a com comentários, opiniões, críticas e louvores... e não deixe que esta semente minha venha a   perecer sem ser de todos primeiro.

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