Numa qualquer planície de África
quando o sol laranja e púrpura já se deitava no horizonte dormente e
seco deixando a crueldade nocturna das matas surgir , um choro suado de
uma negra fazia-se ouvir entre os tão diversos sons da fauna local
misturados com um ar agora fresco que transportava o cheiro encarnado da
terra às escuras que se fazia denunciar apenas pelo cândido resquício
de luz . E em algures , como que perdida naquela planície , uma fogueira
resistia à ligeira brisa que se levantava e lançava-se numa dança de
faúlhas errantes no suave caos da aragem . De uma palhota feita de
barro ramagens e troncos achados naquela árida planura vinham os sons de
mulheres, reunidas num concílio ancestral de auxílio a uma
parturiente, que se ouviam mais concretamente em rezas, danças
acompanhadas do ruído natural da desordem de quem em grupo familiar
aguarda a chegada de uma vida de sabe-se lá onde.... do outro lado do
cá talvez . Lá fora sob a abóbada nocturna salpicada de pontos
cintilantes os homens permaneciam serenos numa roda , onde por entre a
solenidade da ocasião surgiam conversas desconcertantemente banais.
Talvez seja um truque da natureza humana fazer troça directa ou
indirecta das angústias, como que se aquelas trocas de frases
redundantes e de ocasião desafiassem sem temor as próximas horas ou
servissem de pausa ao desassossego de quem teme a morte naquela
exibição parida do ciclo da vida
O lume fazia as sombras dos homens manifestarem-se nos contornos da
palhota do parto parecendo que elas mesmo eram um fogo mudo e apagado
numa mística aparição, unindo a vida estéril das sombras dos homens à
iminência de um nascimento enquanto alguns cães passavam ignorantes ao
espírito expectante da tribo e faziam de acordo com o que o quotidiano
reclamava , prosseguindo por entre os jovens e crianças ainda afastadas
da responsabilidade de admitir as obrigações dos mais velhos. E
brincavam os mais novos tão vivos como a magnífica noite que celebravam
em tal teatro ruidoso da madeira ardente , de risos e latidos ,
submetidos porém à grave aflição de uma mulher , que quase morrendo
queria fazer nascer.
Um-conto-nosso
terça-feira, 4 de outubro de 2016
Primeiras letras.
Antes de mais agradeço-lhe desde já a visita que indirectamente me faz neste meu espaço que pretendo que venha a ser de todos. A intenção foi já revelada. Ambiciono trazer dezenas; centenas, milhares ou...dois ou três leitores de toda a proveniência para lhes dar um conto, como que se fossem eles próprios uma folha numa árvore. Esta página servirá como laboratório nu de crescimento uma planta literária cuja espécie desconheço ainda . Por tal faço-lhe o convite a que a observe crescer, regue-a com comentários, opiniões, críticas e louvores... e não deixe que esta semente minha venha a perecer sem ser de todos primeiro.
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